«Eu estou quase sempre bloqueado, por isso só me resta ir trabalhando»

On 1 julio, 2013 by Redacción Creatividad Literaria

João Ferreira Oliveira é jornalista há cerca de dez anos. Começou a trabalhar no jornal Autosport, dedicado ao comércio e desporto automóvel, tendo depois integrado a redacção da revista de viagens Rotas & Destinos durante seis anos. Actualmente colabora com a revista Evasões e Volta ao Mundo, também no universo das viagens. É autor da crónica Jogador de fim-de-semana, publicada no blogue http://joaoferreiraoliveira.wordpress.com/ e no site P3. Publicou os livros A Origem das Espécies Reinventada (Trinta Por Uma Linha, 2011) e A Estranha História do Príncipe que Inventou o Abecedário (Máquina de Voar, 2012), ambos para crianças. Diário das Coisas Impossíveis é o seu próximo livro. É também um praticante fiel da microficção.

Se é certo que as crianças têm mais imaginação do que os adultos…o quê é que sentes quando escreves para eles?

     Sinto-me bem… de tal forma que gostaria de publicar 100 livros para crianças todos os anos. É um exagero, eu sei. Eu tenho consciência de que nunca poderei publicar 100 livros por ano, quando digo isto estou apenas a ser espirituoso, mas quando uma criança diz algo como quando for grande vou ter 100 filhos ou quando eu for grande quero ter 100 piriquitos, está a ser sincera. Há uma idade em que a imaginação parece não ter limites, em que tudo parece possível. Agrada-me conseguir navegar por aí.

Respeito às publicações semanais de futebol, é dificil fugir dos tópicos? Quero dizer… estás farto do jornalismo desportivo?

Não acho que seja difícil fugir dos temas habituais, estranho é os temas serem quase sempre os mesmos quando se escreve sobre desporto. Se foi falta ou não foi falta, se o jogador estava ou não estava for a de jogo… Isso não me interessa nada. Isto é, interessa-me enquanto apreciador de futebol, eu também sou capaz de passar várias horas a discutir sobre isso, desde  que haja cerveja e amendoins, mas não me seduz minimamente do ponto de vista criativo. Procuro desviar o olhar. Tentar ver qualquer coisa para além… nem que para isso tenha que virar as costas ao campo.

 Onde está o limite da criatividade no jornalismo?

A criatividade no jornalismo “acaba” onde começa a verdade. Posso ser criativo na minha abordagem a esta ou aquela realidade, mas não posso inventar determinada realidade. É ao mesmo tempo uma limitação e um estímulo. Às vezes inventar é a solução mais fácil, mas o jornalismo gosta pouco de mentiras, mais cedo ou mais tarde acaba por se queixar. Uma vez escrevi uma reportagem sobre um sítio que poucos conheciam. Um amigo leu o texto e disse-me: “escreves bem, mas não me enganas”.

Escreves também de viagens. Quando é imposto falar de sensações, porque para viver tens de publicar…, é mais frio? é mais difícil ser original? Tudo é permitido?

Sempre que escrevo sobre viagens faço-o na primeira pessoa e quando se escreve na primeira pessoa parece que tudo é permitido. É uma ilusão, uma vez que o lado jornalístico está sempre a bater-te à porta e trazer-te para a realidade – convém que aqui e ali dês alguma informação útil, os leitores gostam de informações úteis -, mas é uma ilusão que vale a pena alimentar.

E quando escreves para ti, as tuas histórias, relatos… tens tempo? nao ficas chateado de escriver para o jornal e a

revista e preferes ir lá jogar ao futebol?

Conheci um escritor que, um dia, se despediu para ir trabalhar num café. Era, à data, redactor de publicidade. Agora há muito quem vá trabalhar para um café porque não tem alternativa, mas, no seu caso, foi uma opção. Não conseguia passar o dia todo a escrever e ainda ter forças para se dedicar aos seus projectos de ficção. Assim passava os dias a servir imperiais e quando chegava a casa tinha uma enorme vontade de se sentar ao computador. É isso que, às vezes, me acontece, mas como não sei tirar imperiais, vou fazendo o esforço de viver rodeado de caracteres.

Tens mais  frustrações como escritor o como jornalista?

     Enquanto escritor não tenho frustrações, pois acho que ainda não posso ser considerado um escritor. Tenho dúvidas. Muitas dúvidas. Sinto, isso sim, alguma frustração por não ser metade do jornalista que um dia imaginei – acho que já tenho demasiados vícios e pouca vontade de os combater.

 O quê é que fazes ante um bloqueio quando a criatividade não acompanha?

     O que eu gostaria mesmo de saber é como reagiria se não tivesse bloqueios criativos constantes. Será que começava a escrever sem parar? Será que, por fim, escreveria algo verdadeiramente bom? Eu estou quase sempre bloqueado, por isso só me resta ir trabalhando.

És daqueles que vá sempre com uma caneta e um caderno?

     Sou daqueles que gostava de ter sempre uma caneta e um caderno comigo, mas a organização não é o meu forte. Gosto de fazer apontamentos nos livros. Escrever nos espaços em branco. Era aí que eu gostava de publicar os meus livros: no espaço que os outros livros não preenchem.

E quando escrevias sobre carros… os carros podem inspirar?

O único ponto que, hoje em dia, me seduz nos carros é possibilidade da viagem. Andar de carro é também viajar e isso sim, pode ser inspirador.

Para que serve o apêndice?

Não sei, não percebo nada de comida chinesa.

 

 

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